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A produtividade em Portugal precisa de uma abordagem multifacetada. Precisamos que as lideranças sejam o motor de uma transformação que olhe para as organizações como ecossistemas onde o bem-estar e a produtividade coexistem e são aliadas, não inimigas.

Há mais de uma década que Portugal está na cauda da Europa no que diz respeito à produtividade. Atualmente, estamos 29% abaixo da média da União Europeia. Estes números são preocupantes e, no Dia Mundial da Produtividade, devemos refletir sobre esta realidade e sobre como podemos inverter esta tendência.

Que medidas devemos implementar rapidamente para aumentar a produtividade dos nossos trabalhadores em Portugal? Em primeiro lugar, é fundamental ter gestores com mais capacidade de liderança que saibam aproveitar todo o potencial dos trabalhadores, apostando em programas de formação para as lideranças de topo das organizações que permitam que se tire o melhor partido da capacidade das pessoas e não as deixemos sub-aproveitados nos locais de trabalho. Além disso, o salário médio deve envergonhar todo o país, mas também só será possível fazê-lo subir se baixarmos drasticamente a carga fiscal sobre o trabalho que asfixia a economia e as empresas portuguesas.

Também tenho vindo a perceber que a verdadeira produtividade não pode ser dissociada do bem-estar e da felicidade dos colaboradores. Acredito que a produtividade sustentável resulta de um equilíbrio entre a eficiência e a criação de um ambiente de trabalho positivo, onde cada colaborador se sente valorizado e motivado.

A relação entre felicidade e produtividade é suportada por diversos estudos. Colaboradores felizes são mais criativos, mais comprometidos e apresentam uma maior resistência ao stress. Por exemplo, um estudo da Universidade de Warwick revelou que colaboradores felizes são cerca de 50% mais produtivos do que os mais infelizes. Mas como podemos criar este ambiente de felicidade no local de trabalho?

É essencial ter uma cultura organizacional trabalhada para conciliar o bem-estar e a produtividade. Na empresa que lidero temos, por exemplo, as chamadas happy fridays, onde todos os colaboradores têm uma sexta-feira livre por mês para tempo pessoal. Um custo de 5% para a empresa que se traduziu num aumento de 8% de produtividade. Mas também iniciativas de transparência como um momento mensal, o conhecido Ask the CEO, em que se fala sobre o estado da empresa e onde todos os colaboradores podem perguntar o que quiserem. Uma medida que contribuiu para a baixa de stress e aumento do compromisso com a empresa – fatores que sabemos que influenciam diretamente a produtividade.

A inteligência artificial também pode ser uma grande aliada no aumento da produtividade, pois podemos libertar os colaboradores de tarefas rotineiras, permitindo que se foquem em atividades de maior valor. Um estudo recente do MIT com knowledge workers revelou que a produtividade nesse tipo de trabalho pode aumentar até 37%. Isto significa que poderemos fazer em três dias o que fazíamos em cinco. Desta forma, conseguiremos reduzir a quantidade de trabalho para nos focarmos em tarefas mais interessantes ou até com mais valor acrescentado, com pessoas powered by AI (e não, replaced by AI).

Para além destas medidas, é crucial investir na formação contínua das equipas para além da sua função ou área técnica. Inovação e tecnologia é uma aposta óbvia, mas também a autoliderança, metodologias de trabalho, desenvolvimento pessoal e relacional, entre tantas áreas que muitas vezes são esquecidas e tanta importância têm para o indivíduo e para o coletivo.

Para concluir, a produtividade em Portugal precisa de uma abordagem multifacetada. Precisamos que as lideranças sejam o motor de uma transformação que olhe para as organizações como ecossistemas onde o bem-estar e a produtividade coexistem e são aliadas, não inimigas.

 

Artigo publicado no Expresso, a 20 de julho de 2024.

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