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Hoje, é claro que os horizontes se alargaram, e continuarão a alargar-se com novas formas de pensar o trabalho. O teletrabalho generalizado, imposto pela pandemia, é apenas uma janela para o que ainda está para chegar, onde teremos alterações mais profundas do que a simples ideia de ser possível trabalhar a partir de casa.

Que melhor forma de olharmos para o mundo do trabalho se não como uma espécie de universo em expansão?

Se o teletrabalho já era possível, a atenção que lhe era dada pela maioria das pessoas era diminuta, e basta uma rápida pesquisa no Google Trends sobre a evolução de pesquisas na internet para percebermos que o aumento de procura reflecte em parte o despertar de um gigante adormecido.

Esse despertar do teletrabalho de forma massificada traz um conjunto de mudanças estruturais que teremos de ter em conta para conseguirmos adaptar as nossas empresas à maior produtividade possível. Seja porque a expectativa dos colaboradores mudou, seja porque hoje temos o conhecimento de que sem software não é possível ter uma boa gestão com níveis altos de felicidade.

A primeira mudança refere-se à própria forma de organização, que evoluirá para um modelo híbrido, conjugando momentos no escritório com o foco total fora dele (principalmente nas tarefas exigem o chamado deepwork). Um modelo que traz consigo um novo papel para o escritório, que deixará de ser “o local de trabalho” para se tornar num “local de colaboração, cultura e criatividade”. Um local onde a socialização, a partilha e os momentos de equipa terão um significado e um propósito maior.

Esta alteração torna a experiência de trabalho num aspecto ainda mais estruturante da realidade das organizações. Se até agora podíamos fazer a apologia das importantes mais-valias de trabalhar uma cultura de forma profissional, certamente que olharemos este aspecto como inevitável. Só uma cultura forte poderá criar uma experiência de trabalho com propósito e uma empresa competitiva num mundo em que as pessoas passarão menos tempo no mesmo local, mas irão estar cada vez mais interdependentes.

Uma interdependência que irá fazer com que o investimento em capacitação para a liderança venha a ser necessário. Líderes preparados para liderar à distância, mas também equipas preparadas para a própria liderança de cada indivíduo, que, sendo mais autónomo, vê nesse aumento de liberdade um aumento de responsabilidade na nova forma de trabalhar, para a qual necessita de competências e preparação adequada.

Algo que irá obrigar, de uma forma mais generalizada, a que as empresas tenham um “novo pensamento sobre a produtividade”, ou seja, que abandonem a avaliação pela observação e pelo número de horas, e comecem a trabalhar com maior profundidade os sistemas internos de objectivos, KPI (key performance indicators) e indicadores de performance.

Por fim, a peça que liga tudo isto. Falo, obviamente, do software como peça fulcral da Gestão de Pessoas, da sua experiência e desenvolvimento. Será inevitável que a gestão de Recursos Humanos evolua, de forma completa, para um mundo tecnológico, suportado em dados, automatização de processos e ferramentas de ajuda na tomada de decisão. Não só no caso das grandes multinacionais, como também nas ferramentas preparadas para a realidade das PME (pequenas e médias empresas).

Quando olhamos para o mundo do trabalho, temos a certeza de que será suportado em tecnologia; no teletrabalho, na avaliação da produtividade ou na gestão das pessoas. Será apenas possível com a competitividade que a digitalização nos traz.

 

Artigo publicado no Human Resources, a 8 de março de 2021.

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