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Talvez não seja por acaso que um líder de alto desempenho tenha hábitos tão bem definidos. Porque o seu rendimento é mais do que a forma como gere uma equipa ou uma empresa. É também a forma como se gere a si mesmo, cria bons hábitos e retira o melhor de si para colocar em prol do outro.

Que hábitos são esses? Sabemos que não existe uma fórmula mágica que funcione para todos, mas a partilha individual permite-nos criar uma consciência coletiva de possibilidades que temos à nossa disposição. Da mesma forma que aprendo com a partilha de outros, decidi partilhar alguns que funcionam comigo. Espero que ajudem também outros líderes a encontrar caminhos para aumentar o seu desempenho. 

1) A auto liderança

Um bom líder é aquele que, primeiro que tudo, consegue fazer uma gestão cuidada de si mesmo. Aqui, existem várias vertentes que devem ser tidas em conta para atingir a máxima produtividade e chegarmos a um nível de homeostasia interna adequada para conseguir liderar com empatia.

Primeiro há que ter em conta a economia de atenção. O foco é a arma secreta do alto rendimento e sabendo que demoramos 20 minutos a atingir a nossa máxima performance, é crucial aprender a estar focado e evitar distrações. Desligar as notificações do telemóvel, colocar os headphones com uma música conhecida, ou trabalhar num local sem grande movimento pode ajudar a evitar a quebra de flow.

Depois, é preciso cuidar do corpo e da mente: todos os dias aproveito o treino matinal para ver um vídeo instrutivo, e tento não menosprezar o impacto de uma boa alimentação e de um bom pequeno-almoço. Isso faz com que esteja a cuidar do meu corpo e a desenvolver alguma capacidade. Juntamente com a prática regular de meditação para treinar o meu discernimento, é algo de que não abdico.

Finalmente é imperativo fazer uma boa gestão de prioridades. Delegar bem não se traduz apenas em passar trabalho, mas sim em explicar o que se pretende e isto é extremamente importante. Adicionalmente no dia a dia temos que evitar a tentação de ser tudo “para ontem”: dou muita importância a profissionalizar a gestão do email com momentos de resposta, dando prioridade àqueles de resposta rápida e deixando os que necessitam de uma leitura aprofundada para sexta-feira, bem a como criar um governance com momentos para o que é prioritário (se não o for, as urgências do dia a dia sobrepõem-se). Se há duas coisas que temos de fazer é delegar tudo o que possa ser delegável, e marcar tempo na agenda para o que é prioritário.

2) A liderança do outro

Depois de uma autogestão equilibrada, um bom líder preocupa-se em como melhor gerir o outro. Para isto existem algumas máximas a cumprir:

  • Be kind and care – Preocuparmo-nos genuinamente com as pessoas é algo que importa e transparece na nossa liderança. Num mundo cada vez menos próximo, um líder empático é uma mais-valia para qualquer empresa. As pessoas não são números, são pessoas. E um líder deve-se preocupar genuinamente com o bem-estar da sua equipa.
  • Evitar a micro-gestão – É importante que se mude a lente sob a qual se vê a produtividade. No mundo do trabalho híbrido, é impossível avaliar pessoas por observação quando estamos à distância, pois isto cria uma asfixia emocional desnecessária sobre os colaboradores. Por isso, pode ser importante ter reuniões de ponto de situação para avaliar o desenvolvimento do trabalho, mas sem estar sempre a vigiá-lo. Confiar, pedir pontos de situação e monitorizar indicadores de desempenho no software; em vez de fazer uma videochamada de dez em dez minutos que apenas cria obstáculos ao bem-estar de uma equipa.
  • Definir expetativas – Uma grande dica de como liderar melhor passa por conhecer aqueles como quem se trabalha. Ter um documento escrito que explica como trabalhar comigo, no nosso caso chamado “Truly Yours”, baixa o stress e define as expetativas. Quem vem trabalhar comigo recebe uma espécie de manual de como gosto de trabalhar, o que é importante para mim e o que espero em cada momento. Isto facilita muito a integração e ajuda a criar confiança no trabalho.

3) A liderança do grupo

No que toca a liderança de equipas, o importante é comunicar com propósito e, acima de tudo, ser transparente e mostrar sempre a estratégia da empresa. Neste sentido, promover momentos de conversa regulares com os líderes, que envolvam vários colaboradores é crucial para promover esta transparência. No meu caso, o já conhecido Ask the CEO funciona de forma regular, onde falo sobre o estado da empresa, respondo a questões anónimas dos colaboradores da PHC, e faço questão de relembrar o propósito e valores da empresa.

Estar disponível é também das coisas mais importantes para a equipa. Saber que o líder está lá para desbloquear obstáculos e para ajudar a percorrer o caminho. Isto ajuda a reforçar a componente mais importante do alto desempenho que é a segurança psicológica dos elementos da equipa, a que um líder deve dar a máxima atenção e trabalhar todos os dias.

Por fim, uso a tecnologia para tudo. Os projetos, os documentos de trabalho, a informação, o estado de cada tarefa, e os indicadores de performance estão sempre presentes para que possa saber o estado de cada tarefa, colaborar em qualquer projeto, ou perceber onde podemos melhorar.

Estes são três grupos de ideias, que podem ser ainda aprofundadas no meu livro, “Gestão Descontraída, mas Profissional”, com estas e outras práticas que uso para gerir a minha empresa e as minhas pessoas.

Existe uma citação de Jack Welch, antigo diretor da General Electric, que diz “Before you are a leader, success is all about growing yourself. When you become a leader, success is all about growing others” e esta máxima torna-se cada vez mais verdade e traz até tranquilidade, à medida que amadurecemos na nossa liderança.
A liderança de 2022 é uma liderança baseada nas pessoas. Sem elas não existe possibilidade de ser um bom gestor – e é isto que temos que ter em mente, a cada momento.

 

Artigo publicado em Link to Leaders, a 12 de fevereiro de 2022.

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