O que The Queens Gambit nos ensina sobre gestão?

Todos vimos a série. Absorve-nos a todo o momento. Mas no final dos dez episódios a pergunta surge naturalmente: poderemos aprender alguma coisa sobre gestão numa série sobre xadrez?

Se tudo se encaixa de forma perfeita na adaptação do enredo original de Walter Tevis, a analogia com o mundo da gestão não lhe fica atrás. É mais profundo do que aparenta e vai além da ideia abstrata, e óbvia, de como a estratégia é importante.

Existem pelo menos seis ideias importantes que a minissérie apresenta. Verdadeiras lições que, spoilers à parte, tento explicar de forma sucinta:

– Foco é o caminho para a excelência

Talento não chega, é preciso estarmos focados no que fazemos. A divisão de Harry Beltik em várias atividades torna-o óbvio e o mesmo acaba por afirmar que não gosta tanto de xadrez como pensava. Uma metáfora para percebermos como a dispersão impede a excelência e promove ficarmos na zona de conforto. Pelo contrário, a paixão de Beth promove o estudo constante, a preparação prévia, o dizer que não a outras atividades. Se queremos a excelência temos de promover o deep work e estarmos focados na atividade onde queremos vingar.

– Preparar as jogadas seguintes

Na série, vemos a importância do estudo prévio e de planeamento de possíveis jogadas para antecipar e preparar o futuro. Nas empresas é igual, gerir uma empresa que não planeia é como conduzir um carro com uma cortina de nevoeiro à frente. Não vemos para além de uma distância tão curta que nos obriga a ir devagar e com fraca capacidade de resposta. Na presente conjuntura, poderíamos dizer que as empresas não devem despedir ninguém por causa da crise, pela mesma razão que Beth não poderia desperdiçar de forma gratuita a torre: quando fosse a altura de fazer xeque ao rei não teria peças para compor o ataque.

– Inteligência coletiva faz a diferença

“Os soviéticos vencem os americanos porque ajudam-se na preparação do jogo, enquanto nós jogamos sozinhos.” A frase é marcante, revela o poder da inteligência coletiva e que se mostra crucial no desenlace final. Nas empresas, como no xadrez, quando trabalhamos em equipa atingimos resultados que de outra forma seriam inatingíveis.

– O teu propósito interessa

Ao contrário do conselho de um dos seus amigos, Beth acaba por rejeitar o apoio financeiro por não querer ser a cara de uma causa na qual não se revê. A luta para conseguir o financiamento é difícil e acaba por ser coroada pela mão de quem acredita verdadeiramente nela. Com as empresas é igual: quem tem propósitos bem definidos, e não hipoteca os seus princípios, ganha a médio prazo.

– O nosso equilíbrio afeta o nosso desempenho

Um líder deve cuidar de si e ter equilíbrio. Algo que fica bem patente na série quando Beltik diz a Beth: “Estou preocupado contigo.” A fase negra de Beth lembra-nos da necessidade de equilíbrio e bem-estar, para os quais as empresas podem dar um contributo muito importante e ter um ótimo impacto emocional nas nossas vidas.

– O talento não é uma peça decorativa

“Não há nada de exótico nela que não seja o facto de ser mulher”, dizia o comentador russo sobre a presença de Beth no torneio. Um comentário de quem não percebia que ela jogava pelo seu talento e não por ser uma espécie de representação feminina na mesa de jogo. Da mesma forma, à mesa de reuniões também as mulheres podem e devem mostrar o seu talento porque a equidade não é uma peça decorativa, é uma mais valia
de diversidade de opinião.

Seria inesperado que uma série sobre xadrez espelhasse tanto sobre gestão, mas facilmente encontramos estas seis lições em The Queens Gambit. É possível que existam mais e esse é, sem dúvida, um bom pretexto para rever esta minissérie brilhante.

Este texto foi publicado previamente pelo autor no site Executive Digest.