Cinco pontos a ter em conta num cenário de crise

Nenhuma empresa tem sucesso sem líderes preparados, e muito menos em trabalho remoto. Os desafios são muito maiores.

A situação que hoje vivemos, fruto da epidemia provocada pelo coronavírus, traz-nos um cenário novo. Um que não havia sido vivido em Portugal nos últimos 45 anos. É uma situação distinta e à qual todos temos de nos adaptar. E neste artigo partilho algumas ideias sobre o que um CEO deve de fazer quando confrontado com um cenário desta natureza.

Desde que a PHC Software entrou em modo “business at home”, que traduz o espírito que temos de “continuar a nossa atividade a partir de casa”, tenho pensado sobre o que se pode aprender desta última semana. E tenho procurado partilhar boas práticas de trabalho remoto. Penso que este é o momento para partilharmos alguns pontos-chave sobre o que temos vivido e que podem servir para reagirmos da melhor forma perante situações adversas e de crise.

Certamente que haverá um conjunto infindável de ideias. Mas, estas cinco parecem-me pertinentes para qualquer líder de uma PME:

 

1. A adaptação rápida e constante é fulcral.

A ideia de Darwin, de que não são os maiores, nem os mais fortes, que sobrevivem, mas sim os que se adaptam mais rapidamente, é fulcral para reagir da melhor forma a um cenário de contingência. Um exemplo disso foi o facto de não termos cancelado o nosso maior evento para parceiros. O PHC Open Minds, que teria cerca de mil pessoas num recinto. Em vez disso, e para salvaguardarmos a segurança de todos (ainda numa fase inicial do surto da Covid-19), decidimos passar o evento para formato digital.

Algo que até poderia parecer impossível, já que um evento desta natureza demora seis meses a organizar e já tinham passado cinco, mas a adaptação rápida permitiu que se encontrasse uma solução inovadora e que permite ao negócio não parar.

 

2. Tomar a decisão certa na altura certa

Numa situação de contingência, como a que estamos a viver, não basta tomar uma decisão. É preciso que ela surja no momento certo – o que nem sempre é fácil, já que os impactos das decisões nestas situações têm um efeito ampliado e, muitas vezes, irreversível. É, por isso, imprescindível não agir por impulso e seguir os procedimentos adequados. Neste caso, o nosso plano de contingência previa vários cenários e as condições em que eles deveriam ser ativados.

Tomámos as decisões nos momentos adequados e em consonância com a informação que nos chegava das diferentes autoridades governamentais dos países em que temos escritório. Quando chegou o momento certo para passarmos para trabalho remoto, foi o que fizemos.

 

3. Manter a comunicação de forma constante

O trabalho remoto é uma realidade nas empresas. E na PHC já estava instituído. Mas, ter 96% da empresa em trabalho remoto é um enorme desafio. Deixamos de partilhar o mesmo espaço, de estarmos juntos. E isso é uma ameaça à cultura da empresa. Para a manter viva é necessário manter a comunicação entre todos e criar momentos de partilha e celebração em conjunto. Foi por isso que criámos reuniões diárias entre todos – graças à tecnologia que hoje nos permite ultrapassar muitos obstáculos. Uma espécie de “town hall”. Muito comum nas empresas americanas, em que o CEO fala para toda a empresa e segue-se um momento de perguntas e respostas. É uma forma de manter o contacto e estarmos juntos.

 

4. Ter os líderes preparados

Nenhuma empresa tem sucesso sem líderes preparados, e muito menos em trabalho remoto. Os desafios são muito maiores. É por isso que é importante que os líderes façam reuniões diárias de alinhamento com as equipas, no início e no final do dia. Pontos de situação constantes para garantir que todos estão confortáveis e a adaptar-se da melhor forma a um novo formato de empresa.

 

5. Partilhar as boas práticas

Por fim, mas não menos importante. Os CEO devem partilhar as decisões, os desafios e as boas práticas que têm nas suas organizações. Sou um grande defensor da partilha de boas práticas. E nesta situação é ainda mais importante. Temos de aprender uns com os outros e estar no nosso melhor. Para o vírus é apenas a primeira parte de uma guerra que terá um novo capítulo com uma crise económica que se adivinha. Partilharmos e ajudarmo-nos uns aos outros a enfrentar da melhor forma esta situação é uma questão de responsabilidade.

Haverá, com certa, muito que pode ser dito. Estes cinco pontos são um início de conversa e um apelo à nossa responsabilidade. Se estamos a enfrentar uma situação nova, se partilharmos, e aprendermos em conjunto, sairemos dela mais fortes.

 

Este texto foi publicado previamente pelo autor no site Jornal Económico.