Sabemos hoje que uma pessoa feliz produz mais 10% do que a média e, por outro lado, que uma pessoa infeliz produz menos 37%. Isto significa que a diferença de produtividade entre estes dois polos é de quase 50%.
Se as empresas olharem para esta questão, percebem logo um ganho potencial em todo o organismo empresarial, que ultrapassa muitas vezes a felicidade individual de cada colaborador. Por vezes, fala-se da felicidade dos colaboradores como se fosse um tema do momento, no entanto está comprovado que a mesma tem um efeito muito específico na produtividade – e isso é por inerência lucrativo. Logo, uma empresa deve investir nestas práticas cientificamente provadas, de modo a melhorar o bem-estar e a trazer felicidade – e como tal mais produtividade.
Neste sentido, existe outro aspeto importante a ter em conta no local de trabalho: a ideia-chave de que felicidade depende apenas do indivíduo. Não pode ser imposta. Uma empresa pode criar condições, dar formação e potenciar, mas no final será sempre uma escolha para a qual pequenos aspetos têm um grande impacto: por exemplo, manter uma alimentação correta, um horário de sono equilibrado, uma saúde mental cuidada, uma atitude consciente ou até uma postura corporal correta. Nessa medida, as empresas podem atuar como catalisadores desta atitude para a felicidade, ensinando os colaboradores de que, primeiro que tudo, para sermos felizes, é importante pensarmos e estarmos conscientes das decisões que tomamos todos os dias e de como nos afetam.
Por outro lado, a infelicidade no local de trabalho é todo um outro tema. E muitas vezes é responsabilidade da própria empresa. Um estudo da Gallup sobre engagement de colaboradores refere que 70% das pessoas, quando sai de um cargo, abandona o chefe e não a empresa. Porquê? Porque o chefe, não tendo muito poder sobre a felicidade individual, tem um poder incrível sobre a infelicidade da sua equipa. Um líder microgestor, que não dá autonomia, que não reconhece os feitos e que não procura desafios para as pessoas, alimenta a infelicidade dos colaboradores rapidamente.
Neste sentido é também importante apostar na formação continua dos líderes à volta de práticas de segurança psicológica, de práticas de boa gestão, bem como práticas de inovação e autonomia, para que o líder tenha consciência do poder que tem de criar infelicidade. Mas, é também importante dotar as empresas de ferramentas de Human Capital Management que permitam fazer uma gestão cuidada do colaborador.
É também claro que tecnologia tem sido uma importante aliada da felicidade. Tanto na organização de processos, como na monitorização de indicadores que ajudam os líderes a atuar com precisão. Por exemplo, uma ferramenta de gestão de pessoas que tenha indicadores de felicidade dos colaboradores, permite atuar sempre que necessário. Uma das mais usadas é a de uma espécie de tracking poll do estado de espírito do colaborador, em que se pergunta como ele se sente naquele momento. A resposta em si é insignificante para a liderança, mas se existir uma alteração no padrão poderá indicar que algo se passa e dá pistas para um líder atuar. Mais, através de inteligência artificial e algoritmos é possível analisar estas oscilações em larga escala, e no seio das equipas e empresas. Algo que num modelo de trabalho híbrido ou remoto torna-se ainda mais relevante, já que a observação é muitas vezes impossível.
Não tenho dúvidas que a felicidade no local de trabalho é lucrativa para as empresas, mas necessitamos de a olhar da forma correta. Precisamos de dar a formação correta. E precisamos de ter as ferramentas corretas. É algo que está ao alcance de qualquer empresa em Portugal, e é uma questão de escolha. Se queremos o bem-estar das nossas pessoas, se queremos mais produtividade e o crescimento das empresas, teremos de olhar para este tema com a relevância que merece.
Artigo publicado na Líder Magazine, a 3 de março de 2022.